quarta-feira, 22 de março de 2017

Crítica - Power Rangers

Análise Power Rangers


Review Power Rangers
Quando saíram as primeiras imagens desse novo Power Rangers com os personagens vestindo os novos trajes, temi que ele pudesse cometer o equívoco de tentar tornar tudo sério e sisudo demais, já que o senso pueril de aventura e uma inerente cafonice faziam parte do charme da franquia. Afinal, há um limite do quanto se pode levar a sério uma narrativa sobre adolescentes usando roupas coloridas e pilotando dinossauros robôs para lutarem contra monstros gigantes. Felizmente essa nova versão consegue compreender a essência do que tornava os Rangers tão especiais e o resultado é bem melhor do que eu achava que seria.

A trama é bem similar à série. Cinco adolescentes recebem as "moedas do poder" que lhes permite se transformar em Power Rangers. Sob a tutela do alienígena ancestral Zordon (Bryan Cranston) e do robô atrapalhado Alpha 5 (voz de Bill Hader) eles precisam deter Rita Repulsa (Elizabeth Banks), que ameaça toda a vida na Terra. É também um típico filme de origem, não muito diferente em sua estrutura do que os filmes de super heróis que chegam às telas, apresentando um grupo que é reunido por acaso e precisa aprender a trabalhar em equipe.

O que eleva o filme acima dos clichês que ele inicialmente se apoia é o cuidado que o filme tem com seus cinco protagonistas e o modo como desenvolve o laço de amizade e união que lhes permitirá dominar seus poderes, sendo quase que um Clube dos Cinco (1985) com armaduras coloridas. Os Rangers são adolescentes falhos, cheios de anseios, dúvidas e inseguranças. Como típicos adolescentes, cada um a seu modo se sente inadequado e um pária. Jason (Dacre Montgomery) lida com as consequências de uma brincadeira idiota envolvendo o time da escola e sente que jogou todo seu futuro e potencial pelo ralo. Kimberly (Naomi Scott) era a garota mais popular da escola, até que perdeu as amigas no que parece ter sido um mal entendido. Billy (RJ Cyler) tem dificuldade em interagir com outras pessoas por seu leve autismo e sente a perda recente do pai. Trini (Becky G) se sente inadequada e teme ser rejeitada por conta de sua sexualidade e, por fim, Zack (Ludi Lin) sente o peso e a solidão de ter que cuidar sozinho da mãe doente.

O elenco funciona muito bem em conjunto e as cenas entre eles, nas quais compartilham seus medos ou aprendem um com o outro constroem de uma maneira bem sincera, afetuosa e divertida esse senso de amizade e unidade entre eles. Também funcionam bem isoladamente, em especial RJ Cyler como Billy, que se torna o coração da equipe com sua curiosidade ingênua e devoção aos amigos, sem falar do modo sensível como nos revela a introspecção de Billy e suas dificuldades em se relacionar com outros.

Dacre Montgomery faz de Jason alguém que passou a duvidar de si mesmo e inseguro da responsabilidade que recebe, mas que a agarra com unhas e dentes por crer que essa é sua única oportunidade de acertar em alguma coisa e Naomi Scott faz de Kimberly uma garota consumida pela vergonha de ter prejudicado as antigas amigas a troco de nada. Zack e Trini não tem tanto espaço quanto os outros três, mas isso se deve mais ao fato da natureza de pária deles, mais deslocados e isolados do resto, do que por culpa dos atores.

Elizabeth Banks abraça sem medo o exagero e a vilania cartunesca de Rita Repulsa, conseguindo divertir ao mesmo tempo que traz uma presença de loucura e poder, que a torna uma ameaça crível ao Rangers. Alpha é mais divertido e sarcástico do que sua irritante contraparte na série original, enquanto que Zordon, beneficiado pela voz grave e imponente de Bryan Cranston, é um personagem melhor desenvolvido e cujas motivações são menos altruístas do que parecem.

Se tem uma coisa que acaba decepcionando um pouco é justamente o momento em que eles finalmente partem para enfrentar Rita. Depois de tanta antecipação em cima do que eles poderiam fazer depois de morfarem, o filme apenas nos mostrar uma luta rápida entre eles e os bonecos de massa de Rita antes deles convocarem os Zords para enfrentarem o gigantesco Goldar. As lutas corpo a corpo sempre foram um aspecto importante da franquia, com cada Ranger tendo suas próprias armas (no filme vemos apenas a espada de Jason) e tudo mais, então incomoda isso seja relativamente abreviado aqui. A luta com os Zords, por outro lado, funciona melhor conseguindo equilibrar seriedade com cafonice (o modo como Rita é despachada é bem divertido) na medida certa. Sem falar que é difícil não se empolgar conforme ouvimos o tema clássico da série enquanto os robôs correm na direção da cidade. Outro incômodo é a publicidade pouco sutil, já que uma cadeia de lanchonetes famosa certamente pagou caro para que seu nome fosse importante para a trama e precisasse ser citado a todo momento e de maneira pouco orgânica pelos personagens de um modo que quebra a imersão.

Apesar desses problemas e do lugar comum de sua trama, Power Rangers nos conquista com seus personagens carismáticos e bem desenvolvidos, pelo seu senso de diversão e aventura, além de sua fidelidade ao espírito da franquia.

Nota: 7/10


Obs: Há uma cena adicional no meio dos créditos

Trailer

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