segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Crítica - How to Get Away With Murder: 2ª Temporada

Crítica Como Defender um Assassino temporada 2


Como Defender um Assassino 2ª Temporada
Depois de uma primeira temporada muito boa, a série How To Get Away With Murder (Como Defender um Assassino na tradução brasileira) retorna para o seu segundo ano mantendo a mesmo formato de uma trama que se desenvolve paralelamente em dois tempos. Ainda que mantenha as qualidades da temporada anterior, também repete alguns de seus problemas. Aviso que o texto a seguir tem SPOILERS

A trama começa exatamente onde a primeira temporada terminou com o misterioso assassinato de Rebecca (Kate Findlay), a única que podia contar sobre o acobertamento da morte do marido de Annalise (Viola Davis). Ao mesmo tempo, a trama salta para o futuro mostrando baleada e agonizando em uma poça de seu próprio sangue, nos deixando em suspense sobre como a situação chegou àquele ponto e o que irá realmente acontecer com a personagem.

A temporada não perde tempo em revelar a pessoa culpada pela morte de Rebecca, já que demorar muito em um mistério remanescente da temporada anterior poderia travar o progresso da temporada. Com essa resposta obtida, a narrativa foca em colocar Annalise e seus alunos para lidar com as consequências de tudo que aconteceu na temporada anterior, o que coloca a lealdade do grupo à prova, ao mesmo tempo em que eles precisam lidar com um novo e complicado caso de dois irmãos que podem ter matado os pais e talvez tenham um caso incestuoso.


Assim como na primeira temporada, a série consegue equilibrar com habilidade os "casos da semana" com as tramas principais, sempre trazendo novos desenvolvimentos para os arcos maiores. Os casos continuam a tratar de temas relevantes como cyberbullying ou a natureza excessivamente punitiva e pouco reabilitadora do sistema penal (o episódio em que a mãe de uma vítima tenta redimir o assassino do filho é um dos melhores da temporada).

Viola Davis continua excelente como Annalise, uma mulher implacável e obstinada, capaz de destruir qualquer um que se coloque em seu caminho, mas que começa a sentir o peso de todas as coisas reprováveis que fez, implodindo aos poucos com a culpa. Segredos de seu passado também insistem em não ficar enterrados, principalmente com o retorno de sua antiga namorada Eve Rothlo (Famke Janssen) que a faz lembrar de um grave erro que cometera. Assim como na primeira temporada, Davis tem alguns de seus melhores momentos no episódio em que Annalise interage com a mãe (Cicely Tyson, que também esteve na quarta temporada de House of Cards) oferecendo uma melhor compreensão de como Annalise se tornou daquele jeito.

Os estudantes tem suas próprias subtramas, mas quem recebe mais atenção é Wes (Alfred Enoch), de início por causa de sua busca por Rebecca, mas posteriormente pelos indícios de que seu passado cruza com o de Annalise. Connor (Jack Falahee), por sua vez, amadurece sua relação com Oliver (Conrad Ricamora), enquanto que Asher (Matt McGorry) precisa enfrentar um segredo de seu passado. Asher continua sendo usado majoritariamente como alívio cômico e como antes a maioria de suas piadas irrita mais do que faz rir. Seu arco envolvendo o encobrimento de um estupro coletivo serve para tirar o personagem do território da caricatura e dá um pouco mais de latitude para ele se desenvolver, mas ainda assim ele continua sendo o mais descartável do elenco principal.

A temporada ainda consegue mostrar o companheirismo que há entre os estudantes apesar de todas as maquinações e backstabbing, em especial numa cena lá pela segunda metade da temporada com todos dentro de um carro conversando, fazendo piadas e trocando provocações. É um momento que não tem lá muita serventia para mover a trama para frente, mas serve para demonstrar que por mais que não queiram admitir, se importam realmente um pelo outro e apreciam a companhia de cada um. Ainda assim, continua incomodando o quanto a série pesa a mão em criar casais e relacionamentos amorosos para seus personagens, inclusive recorrendo ao batido expediente de colocar dois personagens em uma conversa intensa para ficar em silêncio por alguns segundos apenas para começarem a se agarrar intensamente no momento seguinte. Alguns desses momentos de "pegação" sequer fazem muito sentido como o de Wes e Laurel (Karla Souza) ou Asher e Michaela (Aja Naomi King).

Apesar de ser majoritariamente hábil na condução do mistério, oferecendo respostas ao mesmo tempo que nos instiga com seus desdobramentos, a condução da trama por vezes soa manipulativa e desonesta, com reviravoltas que ocorrem não pelo desenvolvimento das pistas plantadas cuidadosamente ao longo do progresso, mas por flashbacks que adicionam informações não dadas a eventos previamente vistos e explicados.

Um exemplo é quando Annalise é atacada dentro do apartamento de Wes pelo suposto assassino e consegue fugir. Tudo que vemos é ela atingindo o agressor e fugindo do local, mas três episódios depois ficamos sabendo que houve uma elipse entre o ataque e a fuga e que ela, na verdade, conversou com o suspeito e obteve dele uma prova essencial para deter o assassino. Quando esse revelação é feita, a sensação é que tudo foi inventado naquele momento pelos roteiristas, que manipularam a continuidade para dar uma reviravolta que não tinha como acontecer. Ao invés de ficar surpreso, a sensação é de que a série "trapaceou" e que a qualquer momento eventos passados podem ser desfeitos só para criar mais uma surpresa. Isso cria uma incômoda sensação de que "vale tudo" e qualquer mudança pode ser conjurada do vazio e seguir por esse caminho é uma maneira fácil de perder o controle da coesão da narrativa.

De todo modo, a segunda temporada de How to Get Away With Murder continua a oferecer uma ágil e instigante narrativa cheia de mistério e suspense, elevada pelo talento da atriz Viola Davis.


Nota: 8/10

Trailer:

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