quinta-feira, 26 de maio de 2016

Critica - Arrow: 4ª Temporada



Foi difícil retornar para esta temporada Arrow depois do desastre que foi a terceira temporada. Apesar de ter gostado muito da primeira e achado a segunda melhor ainda, a terceira não apenas não funcionou como ainda desperdiçou um dos melhores vilões do Universo DC que era o Ra's Al Ghul (Matt Nable). Ainda assim, a decisão de que na quarta temporada Oliver Queen (Stephen Amell) finalmente assumiria o nome de Arqueiro Verde parecia indicar que uma melhora estava por vir, mesmo que abaixo das duas primeiras.

A nova temporada começou sem perder tempo, fazendo Oliver aparecer com seu novo uniforme e assumindo o novo nome já no primeiro episódio. Nesse quarto ano, o Arqueiro e seu time precisam enfrentar o maléfico Damien Darhk (Neal McDonough), líder da organização H.I.V.E (não confundir com o inumano Hive de Agentes da S.H.I.E.L.D) que chega para tentar tomar o controle da rebatizada Star City (finalmente assumindo seu nome dos quadrinhos). SPOILERS daqui em diante.

Stephen Amell continua sendo a melhor coisa da série e ele marca muito bem a recém descoberta "leveza" de Ollie. Se antes ele falava com uma voz áspera e parecia sempre sisudo ou cabisbaixo, Oliver agora exibe um tom de voz mais ameno e uma linguagem corporal menos fechada. Nem é preciso voltar a temporadas anteriores para perceber a mudança, basta observar os flashbacks presentes nos episódios para ver o Oliver sombrio dos seus últimos anos isolado do mundo. Curiosamente essa dinâmica é uma inversão do que acontecia antes quando o passado mostrava um Oliver mais ingênuo e o presente trazia o protagonista com uma personalidade mais sombria.

Os eventos que ocorrem depois da partida de Laurel (Katie Cassidy) também contribuem para percebermos como o personagem evoluiu. Se antes Oliver iria se retrair em sua culpa e autodesprezo, aqui é ele quem se mantêm sereno (apesar de visivelmente abalado) e tenta fazer os aliados manterem a cabeça no lugar. Tudo caminhava para que Oliver achasse em si o seu melhor e aprendesse a ser um símbolo de luz e esperança para os amigos e cidade ao invés do vigilante sombrio que era. Digo caminhava porque o final da temporada botou todo o desenvolvimento a perder, mas falarei disso mais a frente.

Já que mencionei os flashbacks, preciso dizer que eles continuam tão inúteis e redundantes quanto eram na aventura anterior, tendo pouco a acrescentar à trama presente. Além disso, permaneceu a sensação de eles traziam uma narrativa incrivelmente simples e curta que foi estendida para além da conta ao ponto de caminhar em um passo de tartaruga, devagar e quase parando. Passou da hora dos produtores reverem a necessidade de botar flashbacks em todos os episódios e talvez fosse melhor restringi-los a poucos usos por temporada e assim tentar extrair mais deles.

O John Diggle vivido por David Ramsay era outro personagem que conseguiu manter a consistência apesar do baixo nível da temporada anterior e dos roteiros raramente darem atenção a ele, apesar do personagem ser mais interessante do que outros com mais tempo de tela. Essa temporada tentou reparar isso ao investir do conflito dele ao tentar se reaproximar do irmão, que não só estava sob o controle mental da H.I.V.E como nunca tinha sido o herói de guerra que Diggle pensava ser. Na segunda metade da temporada, ele também teve que lidar com a culpa pelo que aconteceu com Laurel e em ambos os casos Ramsay foi competente em evocar a dor e a frustração de Diggle, que via tudo desmoronar sob seus pés. A tentativa de finalmente dar a ele um uniforme, no entanto, saiu pela culatra, já que o bizarro design do seu capacete o fez parecer o primo pobre do Magneto.

Tirando os dois, nenhum dos outros personagens regulares teve nada de interessante a fazer. Tudo que aconteceu com Thea (Willa Holland), por exemplo, pareceu uma reciclagem de subtramas de temporadas anteriores. Sua "sede de sangue" pós ressurreição no poço de Lázaro foi basicamente a mesma coisa do surto de Roy (Colton Haynes) sob efeito do Mirakuru na segunda temporada e seu relacionamento com assessor político de Oliver foi exatamente a mesma coisa do seu namoro relâmpago com um DJ na temporada anterior, já que ambos terminaram por ser serviçais do vilão que queriam mantê-la sob controle.

Felicity (Emily Bett Rickards) tinha ido da assistente espevitada e divertida das primeiras temporadas para ser uma chorona que só reclamava na terceira e isso continuou aqui com mais idas e vindas entre ela e Oliver no qual ela reclamava por ele ser fechado e manter segredos (mesmo quando ele tinha razões aceitáveis para tal). A subtrama dela como presidente da Palmer Tech foi abandonada lá pela metade da temporada e o arco dela com o pai que a abandou e que era um cibercriminoso foi resolvido tão rápido e fácil que soou forçado. Bastou que ele a ajudasse um pouco a deter Darhk no final que imediatamente ela deixou de lado décadas de mágoa e comportamento criminoso dele e começou a chamá-lo de papai. Os últimos episódios pareciam dar a personagem algum material interessante com ela falhando em deter todos os mísseis do vilão e deixando que uma parte da cidade fosse atingida. Imaginei que sua culpa e sentimento de impotência fossem ser trabalhados de algum modo, mas nada disso repercutiu e o conflito emocional da personagem foi varrido para debaixo do tapete.

Laurel era tida por muitos como a personagem mais detestada e essa temporada não ajudou em nada para atrair alguma simpatia para ela. Mesmo com praticamente todos os personagens lhe dizendo para não tentar reviver sua irmã, Sara (Caity Lotz), Laurel se comportou como uma criança birrenta e imatura e a reviveu mesmo assim, criando problemas para ela e para os outros. Nem mesmo a despedida da personagem ajudou a angariar qualquer sentimento positivo e a eliminação de uma personagem importante do cânone do Arqueiro acabou sendo vazia e sem impacto. Aliás, essa temporada foi cheia de grandes eventos sem nenhum abalo, da morte súbita e sem repercussão de Amanda Waller (Cynthia Addai-Robinson) à dissolução gratuita da Liga de Assassinos, momentos que alteravam o universo da série de modo significativo falharam em impactar como deveriam.

O vilão Damien Darhk foi uma adição interessante, principalmente por ir na contramão do que foram os antagonistas principais da série. Darhk era aquele tipo de vilão que tem plena consciência de que é extremamente maligno e demonstra gostar e se divertir com sua própria maldade. Isso poderia transformá-lo facilmente em uma caricatura, mas Neal McDonough o faz ameaçador e poderoso o bastante para que não o subestimemos apesar de suas gargalhadas vilanescas exageradas e, na verdade, ele rouba a cena sempre que aparece. O problema é que seu objetivo não vai nada além do genérico plano de destruição generalizada que já vimos tantas vezes. Além disso, o confronto final entre ele e Oliver foi simplesmente decepcionante.

Assim como em Flash, Arrow também sofria com o fato dos "vilões da semana" não serem nada mais do que pedaços de carne vazios e descartáveis. Se a série do velocista escarlate pelo menos tinha alguns vilões recorrentes bacanas, Arrow nem isso tem, já que Slade Wilson (Manu Bennett) foi esquecido e Malcolm Merlyn (John Barrowman) já perdeu a graça a um bom tempo. O vilão Anarquia (Alexander Calvert) foi totalmente desperdiçado ao ser reduzido a um Coringa genérico que queria ver tudo pegar fogo ao invés do extremista político e antigoverno que ele normalmente é nos quadrinhos.

Desperdício também foi a introdução de Curtis Holt (Echo Kellum), que nos quadrinho é o herói Sr. Incrível, já que ele não foi nada além de uma versão masculina de Felicity, não tendo nenhum tipo de arco próprio, nem nenhuma evolução que o aproximasse de seu alter-ego heroico (apenas alguns easter eggs). John Constantine (Matt Ryan) apareceu para ajudar Oliver em um episódio e apesar de Matt Ryan ser ótimo como o ocultista britânico e ter uma ótima química com Amell, sua participação soou como um mero "prêmio de consolação" para os fãs da série cancelada, já que nada foi realmente feito com o personagem.

A personagem Vixen (Megalyn Echikunwoke), que ganhou uma minissérie animada na internet (e ligada a esse mesmo universo), saiu de seu desenho para se encontrar fisicamente com o Arqueiro Verde (eles chegaram a se encontrar na animação) e foi bacana ver a atriz Megalyn Echikunwoke repetir fisicamente o papel que tinha feito apenas por voz. É uma ocorrência pouco usual, já que mesmo quando os dubladores também atuam, eles raramente possuem a semelhança física para interpretá-lo em carne e osso e mesmo quando isso acontece, dificilmente recebem a oportunidade. Eu mesmo não me conformo até hoje que a atriz C.C.H Pounder, que dublava a Amanda Waller na série animada da Liga da Justiça, nunca foi chamada para viver a personagem em live action apesar de ser parecidíssima com a Waller dos quadrinhos.

O péssimo Season Finale

O que derrubou mesmo essa temporada de Arrow foi o final que botou a perder o pouco que tinha funcionado. A primeira coisa que incomoda é que mais uma vez um evento cataclísmico destrói um pedaço considerável de Star City e mais uma vez há uma briga em larga escala nas ruas, igualzinho a todas as temporadas anteriores. O fato do capitão Lance já ter inclusive brincado com isso na temporada anterior ao dizer "Starling City está sob ataque, devemos estar em maio", só torna a repetição ainda pior.

Apesar da destruição causada no episódio anterior, o final falhou em nos mostrar o clima de terror, medo ou tensão que poderia existir nos cidadãos depois de um pedaço da cidade ir literalmente para o buraco. Houve uma breve cena em que Oliver encontrou uma multidão revoltada na rua quebrando tudo, mas foi insuficiente para transmitir a sensação de pânico generalizado que se espera de uma situação assim. A cena em questão, inclusive, mostra como Oliver está disposto a inspirar e dar esperança para as pessoas, mas seu discurso foi tão piegas e genérico que foi difícil acreditar que a multidão tenha mesmo se dispersado diante daquilo.

O confronto final entre Oliver e Darhk teve tantos problemas que nem sei por onde começar. Toda a temporada construía para Oliver encontrar seu "lado bom" em ser mais esperançoso e positivo. Isso tinha ficado até mais evidente nos últimos episódios quando ele encontrou uma "tutora sobrenatural" para ensiná-lo a enfrentar a magia sombria do vilão. Durante seu aprendizado, Ollie aprendeu que apenas usando usa luz interior ele poderia resistir às trevas do inimigo.

A luta entre eles, no entanto, chegou a uma conclusão diferente com os roteiristas praticamente dando de ombros e dizendo "sabe de uma coisa? Talvez ele não precise ser sempre bonzinho". O problema nem é que Oliver tenha matado o vilão, isso seria aceitável e compressível se houvesse algum perigo iminente, se ele estivesse prestes a matar alguém ou o próprio Oliver, mas não, Darhk já havia sido derrotado, não havia motivo para matá-lo e ainda assim o Arqueiro Verde, que deveria ser um símbolo de inspiração e esperança, executou um sujeito já derrotado no meio da rua para todo mundo ver. Isso não apenas joga no ralo o desenvolvimento da temporada, construindo uma mensagem que contradiz o que foi dito nos episódios anteriores, isso nega o progresso que Oliver teve desde a segunda temporada quando ele se recusou a matar Slade e ele inclusive tinha mais motivos para matá-lo e estava mais próximo do seu "eu sombrio" do que aqui.

Esse, porém não foi o único problema do confronto. A luta em si foi bem decepcionante, o que é praticamente incompreensível se pensarmos que as lutas e cenas de ação eram consistentemente boas. Primeiro há a questão de Oliver ser capaz de "desligar" a mágica de Darhk apenas com sua esperança e a de um punhado de cidadãos ao seu lado, sendo que o roteiro estabeleceu que naquele momento o vilão estava poderosíssimo graças às milhares de pessoas que seus mísseis mataram. Não faz muito sentido que a esperança de algumas dúzias supere o poder sombrio de milhares, afinal em nenhum momento foi estabelecido que a luz é tão mais poderosa que as trevas. A segunda coisa é que mesmo sem magia, o vilão ainda assim foi capaz de matar o ex-namorado de Felicity à distância, o que é simplesmente absurdo, como ele pode ter perdido os poderes e ainda ter seus poderes? Por fim temos o embate propriamente dito, Oliver e Darhk eram ambos lutadores habilidosos, mas a luta entre eles mais pareceu o final de Rocky IV (1985) com os dois parados de frente para o outro trocando socos. A câmera se manter tão distante dos dois durante a luta apenas serviu para apequenar o momento.

Para piorar os soldados da H.I.V.E se mostraram completamente ineptos ao enfrentarem a população desarmada de Star City. A cena claramente queria referenciar o embate final de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2008), mas no filme de Nolan os mercenários comandados por Bane (Tom Hardy) atiraram sem dó nos policiais que corriam em sua direção e só partiram para o combate corporal quando a multidão já estava em cima deles. Já aqui os soldados de Darhk simplesmente jogaram suas armas no chão e correram da direção dos cidadãos de Star City, o que é completamente estúpido.

Os minutos finais se mostraram incrivelmente depressivos e pessimistas para um arco narrativo que consistia em colocar o protagonista para se tornar uma figura inspiradora e cheia de esperança. Os últimos momentos da temporada mostraram Thea decidindo ir embora de Star City e Diggle deixando o time, a esposa e a filha para retornar ao exército. Ou seja: os membros do time de Oliver (com exceção de Felicity) resolvem desistir de tudo e a temporada encerra com um herói que deveria ser uma inspiração e fonte de esperança sequer conseguindo inspirar os próprios amigos. O fato de ambos terem dito anteriormente que foram tocados pelo discurso de Oliver para a multidão só torna tudo ainda mais incoerente. O final é um completo contra-senso de tudo que a temporada nos disse. Não bastasse o desfecho sem sentido, o último episódio sequer tenta nos dar qualquer motivo para retornar à série, já que não deixa nenhuma sugestão ou gancho para o que pode vir a seguir. A menos que você tenha muita vontade de ver Oliver como prefeito, não há razão para ficar empolgado com uma quinta temporada.

A quarta temporada de Arrow parecia ao início ser capaz de reverter, mesmo sem devolvê-la ao alto nível de antes, o desastre que foi a temporada anterior. Seu desenvolvimento, no entanto, apenas sedimentou o péssimo estado em que ela se encontra e depois de duas temporadas ruins seguidas, tenho pouca fé que ela consiga se recuperar. A esse ponto não tenho a menor vontade de voltar a acompanhá-la em uma quinta temporada.


Nota: 4/10 

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