sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Crítica - Gonzaga: De Pai Para Filho

A relação de um músico com a família e a influência da mesma em sua carreira não é exatamente um tema novo para o diretor Breno Silveira, responsável pelo longa Dois Filhos de Francisco (2005), no qual ele mostrava o quanto o pai da dupla Zezé de Camargo e Luciano influenciou para a iniciação e formação musical dos dois. Pois bem, neste Gonzaga: De Pai Para Filho a temática é resgatada e acompanhamos o músico Luis Gonzaga (Land Vieira) desde sua juventude no interior de Pernambuco, quando trabalhava com seu pai consertando acordeons, passando por seu sucesso e relação atribulada com seu filho Gonzaguinha (Julio Andrade). A trama inicia com Gonzaga já idoso, recebendo a visita do filho que visa se reaproximar dele e a partir de então Gonzaga passa a relatar sua vida.

O amplo escopo temporal (que vai da década de 20 aos anos 80) do filme acaba se revelando um dos maiores problemas da fita, já que no desejo de abranger a maior quantidade de eventos possíveis a grande maioria dos personagens passa rapidamente pela narrativa, recebendo um tratamento bastante unidimensional, como a segunda esposa de Gonzaga (interpretada por Roberta Gualda) que se torna quase uma madrasta má da Cinderela, ou então passam tão rápido que o público não tem tempo de estabelecer quaisquer laços afetivos. Assim, quando uma pessoa próxima do protagonista morre, o filme precisa recorrer a uma música bastante intrusiva na tentativa de extrair uma reação emocional, já que não houve muito tempo para nos importarmos com o destino daquela personagem.

Outra questão problemática é o uso excessivo das chamadas montage sequences, aquelas famosas sequências de montagem rápida com vários cortes do personagem desempenhando uma determinada ação ao longo do tempo (como os treinamentos do Stallone nos Rocky). O filme abusa de tais recursos, praticamente alternando uma montage entre uma cena e outra, conferindo à narrativa um tom bastante episódico e que por vezes deixa de revelar pequenos detalhes e motivações importantes para compreender os personagens, como o motivo de Gonzaga (Adelio Lima) já idoso ter deixado o Rio de Janeiro para voltar para Exu.

A força do filme reside, entretanto, nos dois protagonistas. Gonzaga (interpretado na idade adulta por Chambinho do Acordeon) e Gonzaguinha são aqui retratados sem a conivência que as cinebiografias (principalmente as brasileiras) costumam exibir sobre seus personagens, atenuando ou relativizando seus erros, tornando-os no filme personagens mais complexos( diferente do que ocorre com os coadjuvantes) e confiando na inteligência do público para o julgamento sobre suas ações. As composições dos dois protagonistas são bastante acertadas, tanto nos sotaques quanto à linguagem corporal, passando pelo enorme carisma de Gonzaga à introspecção de Gonzaguinha. A confiança do diretor no trabalho dos seus atores permite até que ele contraponha suas construções com os objetos reais através da exibição das imagens de arquivo.

Assim sendo, apesar de seus problemas estruturais, Gonzaga: De Pai Para Filho consegue ser uma biografia satisfatória de duas das figuras mais importantes da música brasileira e uma ótima forma de introduzir às novas gerações o grande legado artístico deixado pelos dois.

Nota: 7/10

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