quarta-feira, 20 de maio de 2015

Crítica - Crimes Ocultos


Análise Crimes Ocultos

Review Crimes Ocultos
Uma narrativa policial que narra a busca por um serial killer na União Soviética stalinista parecia bastante promissor, já que o cinema de gênero em Hollywood raramente faz algo do lado de lá da Cortina de Ferro durante o período de tensões ampliadas entre os soviéticos e os Estados Unidos. Lamentavelmente qualquer frescor que este cenário poderia oferecer é limado por problemas sérios de estrutura e ritmo narrativo.

Neste Crimes Ocultos acompanhamos Leo (Tom Hardy), um herói de guerra soviético que se tornou investigador da MGB, o Ministério de Segurança do Estado. Leo cai em desgraça quando se recusa a denunciar a esposa, Raisa (Noomi Rapace), como traidora e ambos são exilados de Moscou e enviados para uma erma cidade no interior. Em meio a isso tudo Leo se depara com a morte em série de crianças e desconfia se tratar da obra de um serial killer. A hipótese, no entanto, é rechaçada por seus superiores, já que consideram assassinato algo parte do capitalismo e dentro da utopia em que vivem tal coisa não pode existir. Assim sendo, Leo deve ir contra as próprias estruturas do regime, incluindo um agente rival da MGB, Vassili (Joel Kinnaman) para por um fim às mortes.

O filme faz uma reconstrução competente da União Soviética stalinista, dando aos prédios e figurinos uma aparência desgastada, suja e puída, transmitindo que não são tempos fáceis para aquelas pessoas e elas tem de se virar como podem. A fotografia contribui para isso investindo em sombras e tons cinzentos que ressaltam a sensação de tristeza e desesperança.

A questão é que tudo é tão sujo e mal iluminado que em algumas cenas de ação chega a ser difícil discernir quem é quem, em especial numa luta dentro de um trem e no embate entre Leo e Vassili quando ambos rolam na lama. Tudo isso é piorado pelo trabalho de câmera e montagem nos momentos de ação que recorrem a uma interminável tremedeira da câmera e um número absurdo de cortes por segundo deixando a ação praticamente incompreensível.

Isso seria perdoável se o filme conseguisse criar com eficiência uma atmosfera de tensão e incerteza, mas isso não acontece. Primeiramente por causa do ritmo lento da narrativa, no qual as coisas demoram a se desenvolver e ainda por cima realiza várias digressões que visam denunciar os vários problemas políticos e sociais do país, sendo que a trama da investigação por si só já faria isso e essas intervenções servem apenas para deixar o fluxo narrativo truncado.

O segundo e mais grave é a inexplicável decisão de entregar ao público toda a resolução do crime praticamente na metade do filme e assim cruzamos os braços aborrecidos pela hora seguinte enquanto esperamos o protagonista tenta alcançar o nosso patamar de informação. Isso faria sentido se o filme usasse isso para criar alguma outra reviravolta ou surpresa para elevar novamente a tensão, no entanto isso não acontece. Ao invés disso o filme se transforma em um exercício de paciência, desprovido de qualquer sensação de suspense ou incerteza, já que sabemos o mistério central da trama e assim perdemos o interesse nos percalços do protagonista em alcançar a verdade, afinal já a alcançamos por conta própria.

Apesar disso, Tom Hardy consegue convencer como um homem bruto e intimidador, mas que ainda mantêm uma certa ética. Do mesmo modo, Noomi Rapace nos traz uma mulher que parece ter se resignado a sua infelicidade ainda que tente escondê-la do marido e as cenas que ela divide com Hardy são possivelmente os únicos momentos que o filme realmente consegue nos engajar. Joel Kinnaman, no entanto, lida com um material limitado e não consegue fazer seu Vassili ir além de um vilão tolo caricato.

Há também um problema na construção das falas dos personagens. É compreensível que todos falem em inglês, mas o que não faz muito sentido é que falem um inglês torto e cheio de erros de concordância verbal e uso de preposições como se tivessem aprendido o idioma com o Borat. Isso piora com a heterogeneidade de sotaques que variam entre sutil (como Rapace) e o completamente carregado (Hardy), nos deixando com a impressão de que não estamos vendo um conjunto de russos e sim um bando de atores tentando, cada um a seu modo, fingir soar russo.

Deste modo, Crimes Ocultos desperdiça sua competente reconstrução de época e a boa dupla principal em uma trama arrastada com sérios problemas na estruturação do mistério principal.


Nota: 4/10

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