terça-feira, 21 de abril de 2015

Crítica - Vingadores: Era de Ultron

Análise Crítica - Vingadores: Era de Ultron

Review - Vingadores: Era de UltronDepois do absoluto sucesso do primeiro Os Vingadores (2012), que consolidou o universo cinematográfico da Marvel e todos os seus heróis em uma só história, ficava no ar dúvida se o estúdio seria capaz de superar a afiadíssima primeira aventura neste Vingadores: Era de Ultron. A verdade é que este não é tão coeso quanto o filme anterior, mas ainda assim é bastante satisfatório.

A história começa com os heróis invadindo a última base restante da Hidra para recuperar o cetro de Loki das mãos do Barão Von Strucker (Thomas Kretschmann). Ao fim da missão Tony Stark (Robert Downey Jr) descobre no cetro um código que lhe permitiria criar uma verdadeira inteligência artificial que poderia ser a chave para o seu programa de robôs para o patrulhamento mundial. Assim, ele e Bruce Banner (Mark Ruffalo) criam Ultron (James Spader) com o objetivo de promover a paz mundial. A questão é que o robô super inteligente chega a conclusão que o melhor caminho para a pacificação é a destruição da humanidade e parte para atacar seus criadores e destruir a raça que considera inferior.

O tom do filme é um pouco mais sério, assim como o de Capitão América 2: O Soldado Invernal, algo que este filme evidencia ao usar uma paleta de cores em uma saturação mais baixa do que na primeira aventura do grupo, ao mesmo tempo que investe em cenários mais sombrios e menos iluminados. O problema é que quando tudo isso é visto pelas igualmente escuras lentes dos óculos 3D torna as coisas quase impossíveis de serem vistas em alguns momentos, como todo o segmento no navio do vilão Ulysses Claw (Andy Serkis), transformando o recurso em algo que prejudica a experiência ao invés de melhorá-la. Deste modo, melhor evitar as exibições neste formato.

Descartando os problemas com o 3D, a iniciativa visual é coerente com a natureza da história, visto que Ultron não quer apenas destruir a humanidade mas derrotar completamente os Vingadores e usará sua inteligência, bem como a manipulação mental da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) para mergulhar os heróis em seus maiores medos. Assim, os vemos exibir uma vulnerabilidade que não vimos em filmes anteriores. Ao mesmo tempo, é hábil o bastante para não deixar que tudo se torne sério e sisudo demais, injetando humor suficiente para entreter e aliviar o ritmo, mas sem passar por cima da dramaticidade, algo que já acontecia no segundo filme do Capitão América, mas que não tinha sido alcançado no equivocado Homem de Ferro 3.

O diretor e roteirista Joss Whedon continua entendendo que aquilo que torna o grupo tão interessante é a colisão entre personalidades disfuncionais destes personagens. Eles são sujeitos incompletos, problemáticos e com visões de mundo bem pessoais, assim não é difícil compreender porque Stark vê como uma boa solução seus experimentos com inteligência artificial e sua tentativa de criar uma força de robôs pacificadores, do mesmo modo compreendemos o receio do Capitão América (Chris Evans) em se valer de "ataques preventivos" ou tentar criar algo superior ao próprio ser humano. O texto evita cair em maniqueísmos fáceis e nos faz ver as coisas sob o ponto de vista de cada um deles.  Tudo isso ajuda também a criar a atmosfera de conflito que irá desembocar no vindouro filme da Guerra Civil, além de algumas discretas menções a outros filmes do estúdio.

Do mesmo modo, Ultron é um dos vilões mais interessantes do universo Marvel até então, já que ele é movido por mais do que além sua fria lógica, mas também uma grande dose de vaidade, rancor e um cavalar complexo de Édipo que o move a se provar superior ao seu criador o tempo todo, incluindo criar ele próprio uma nova forma de inteligência artificial na forma do híbrido Visão (Paul Bettany). O arco do vilão, porém, soa um pouco apressado demais de início, já que mal ele ganha consciência e já começa a odiar seus criadores, seria interessante ver isso acontecer de modo menos automático.

Assim, fica a sensação de que a trama não consegue equilibrar tão bem a presença de tantos personagens como no filme anterior, que conseguia dar arcos narrativos e ações importantes a cada um dos heróis. Se o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) ganha aqui um merecido destaque depois de passar boa parte de Os Vingadores como um mero capanga, personagens como Thor (Chris Hemsworth) são deixados a escanteio e tem pouco à contribuir além da pancadaria. Aliás, a subtrama de Thor, parece mais voltada a desenvolver elementos para o terceiro filme do personagem e os próximos Vingadores do que para o conflito presente, fazendo este desvio quebrar um pouco o ritmo da narrativa Seria melhor deixar isso para os filmes sozinho do que gastar o disputado tempo deste, principalmente quando até mesmo novatos como Mercúrio (Aaron Taylor Johnson) são relegados à irrelevância, um sinal de que há uma clara dificuldade em desenvolver satisfatoriamente os personagens. Claro, Mercúrio nunca foi grande coisa nos quadrinhos, mas não consigo deixar de pensar que o destino do personagem também deve estar relacionado à querela entre Marvel e Fox, mas negar aos fãs aquilo que eles esperam e cuspir em cima do material que eles adoram apenas por rancor à concorrente é uma estratégia corporativa mesquinha e desrespeitosa.

A impressão é que a Marvel se comporta aqui como um valentão de escola que toma o brinquedo do colega, sacudindo-o na sua frente perguntando se quer brincar com ele e depois quebra ele inteiro para devolvê-lo e com desdém dizer que nunca tinha gostado mesmo daquele brinquedo. Sim, a Marvel tinha anunciado o personagem primeiro, mas como a Fox, por pura provocação, o colocou antes nas telas, o estúdio parece ter decido dar uma resposta à ofensa da concorrente e mostrar como o personagem é descartável e eles não dão a mínima para ele ao invés de tentar fazer algo que o tornasse mais interessante do que o da Fox.

Do mesmo, modo a tentativa de criar um relacionamento amoroso entre Bruce Banner e a Viúva Negra (Scarlett Johansson) soa gratuito e desnecessário, já que o envolvimento não acrescenta nada a nenhum dos dois que não poderia ser feito sem isso. Tudo bem, eles tem muito em comum e em alguns bons momentos se abrem um com o outro de modo que jamais vimos esses personagens fazerem, mas ela também já tinha compartilhado um pouco sobre si para o Capitão no segundo filme do herói e para o Gavião na primeira aventura da equipe e nem por isso precisou se envolver romanticamente com eles.

As cenas de ação, como era de se esperar, continuam muito boas quanto no primeiro e Joss Whedon mantém a competência de criar longas batalhas em larga escala sem nunca perder o controle ou a coesão sobre o que acontece. Sua câmera passeia com elegância entre os diferentes heróis sem nunca perder a noção do conjunto geral das coisas. Os combates exploram de modo criativo e interessante os poderes e habilidades dos heróis, sempre havendo algo de espetacular e empolgante a ser visto. Apesar de todo o caos e destruição, o filme não perde de vista as pessoas comuns que são pegas no meio de tudo aquilo, mostrando também a preocupação dos heróis em manter a salvo os inocentes e evitar que suas ações causem mal aos outros. Assim temos um maior senso de perigo, pois sabemos o número de vidas em jogo, como também temos mais simpatia pelos personagens, já que eles não estão ali apenas para bater nos vilões, mas também para salvar vidas, algo que filmes como O Homem de Aço (2013) parecem esquecer.

Deste modo, apesar da dificuldade em lidar com tantos personagens, Vingadores: Era de Ultron é mais uma sólida e intensa aventura dos super-heróis da Marvel.

Nota: 7/10

Obs: Há uma cena adicional no meio dos créditos

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